- Posted by: Karina ComDeus
- 22 de novembro de 2019
- Categories: Notícias e Artigos
Existe a possibilidade de uma pessoa viver sem fé?
É possível uma pessoa viver sem fé? Para
respondermos a esse questionamento, precisamos partir do pressuposto de que
temos dois tipos de fé: a natural e a sobrenatural. A fé natural é aquela que
fundamenta as decisões humanas, sem a qual não poderíamos nem mesmo levantar da
cama. Se utilizo um meio de transporte conduzido por outra pessoa é porque
tenho fé na pessoa que o conduz, acredito que ela me levará até ao meu destino
e em segurança; se me alimento é porque acredito que a comida não foi
envenenada por quem a preparou. As relações humanas mais simples são altamente
marcadas por realidades de fé.
São
Tomás de Aquino diz que: “A incredulidade
é essencialmente contrária à natureza humana”, e o papa emérito Bento XVI
diz: “Todo ser humano precisa ‘crer’ de
alguma maneira” (RATZINGER, J. Introdução ao Cristianismo, p. 54); é uma
confiança existencial tanto no sentido natural quanto no invisível, como
veremos adiante.
Quanto à fé sobrenatural, essa
implica em acreditar e confiar em um Ser transcendente e, essa realidade, não é
acolhida por todos. Falando sobre a fé cristã, o Catecismo da Igreja Católica §
26 nos diz que: “A fé é a ‘resposta’ do homem a Deus, que a ele Se revela e Se oferece resposta que, ao mesmo tempo, traz uma luz superabundante ao homem que busca o sentido último da sua vida”. Se ela é a resposta é porque
existe uma “pergunta”. Nem todo homem escuta essa pergunta, seu ouvido pode
estar fechado pelo racionalismo ou tantas outras realidades, por isso tantos
não buscam a transcendência. A fé é um dom que vem de Deus, entra no homem e
volta a Deus.

A fé é um atributo
humano, mas não é gerado pelo homem
A palavra “fé” aparece 155 vezes
na Sagrada Escritura. São Paulo diz na
Carta aos Romanos 10,16 que: “… não são
todos que prestaram ouvido à Boa-Nova”, e continua no próximo versículo: “a fé
provém da pregação e a pregação se exerce em razão da Palavra de Cristo”
(Rm 10,17); assim, entendemos que ela é recebida pela escuta, gerando uma
atitude responsável na vivência do que foi ouvido.
É importante considerar, também, que essa resposta parte do ser humano
de acordo com sua realidade sociocultural, pois, as realidades influenciam
nela. Se sou imaturo, minha resposta, minha fé será imatura; se minha
consciência for mórbida e doente, minha fé assim será também. Ela também é
marcada, muitas vezes, pelos grandes silêncios de Deus, como cito no meu livro “O Segredo de Ser Você”: “Quando o Papa Bento XVI pisou
no campo de concentração de Auschwitz, ele perguntou a Deus: ‘Onde Tu estavas
enquanto tantos aqui morriam?’ Sua voz era o eco do grito de todos os que
clamavam pelo Pai em meio ao terrível holocausto”. (ANA PAULA, Irmã. O
Segredo de Ser Você. Planeta. São Paulo. 2019. Pág. 12). Ele não duvidava de
Deus, mas demonstra, nessa pergunta, a confirmação da sua fé.
Vemos também, na história de
Israel, o silêncio de Deus na vida de Moisés, de Josué etc., na verdade, Deus
instiga essa resposta. O silêncio de Deus nos afeta pelo
fato de não sermos deuses, por isso, a fé é um atributo humano, mas não é
gerado pelo homem.
Três componentes fundamentais: a
fé experiência,
a fé inteligência
e a fé prática
Quando falamos de fé teologal, podemos
pontuar três componentes fundamentais que deveriam estar interligados ao ser
humano: a fé experiência, a fé inteligência e a fé prática.
Fé experiência
(fides qua) – é a primeira fé, ainda bruta, uma fé afetiva, fiducial, de confiança. A experiência é uma forma de conhecimento, mas
não tem um método em si mesma.
Fé inteligência
(fides quae) – fé cognitiva e racional, onde Deus é estudado por seres humanos
que, cognitivamente reconhecem-se limitados diante d’Aquele que é o Principio e
o Fim. É um processo de lapidação onde, por meio da busca do conhecimento de
Deus, gera maior qualidade da Fé, mas não substitui a “fé experiência”, pois existem pessoas que procuram somente a fé
cognitiva, Deus é apenas um Objeto de estudo e nada mais. Essas pessoas negam a
experiência, não criam relação com Deus, como o
exemplo de Max Weber, citado acima, ou o de tantos outros que se denominam
ateus.
Fé prática – quando há um comprometimento de
transmitir a fé com as atitudes, é uma fé encarnada e testemunhada. É quando damos razão à fé no cotidiano da
vida. A fé não é sentimentalismo; é união, entrega, renúncia, fundamento,
sentido, vida. É comprometimento com Deus e com Seu Reino.
Confiar
em um Deus que não cabe em nossa inteligência
No
livro “Introdução ao Cristianismo”, o
Papa emérito Bento XVI, dizia, retomando à ideia de Kierkegaard, filósofo e
teólogo dinamarquês do século XIX: “fé é um salto sobre um abismo”. É saltar no
invisível, em meio a um mundo mergulhado no positivismo que se fundamenta
somente no que é visível; é confiar em um Deus que não cabe em nossa
inteligência, mesmo vivendo em uma sociedade científica que aceita
somente o que é factível.
A experiência de fé de Abraão nos mostra um homem que passou pelo
processo de transição do que é estável e visível para acreditar numa promessa
invisível, ampliando seus horizontes, numa confiança e abandono n’Aquele que
lhe chamava. São João da Cruz diz que: “a Fé te guia, como pessoa cega: leva-te
para onde e por onde não sabes; e jamais, por teus próprios olhos e pés,
atinarias com este caminho e lugar, por melhor que andasses” (II N 16,7).
No Credo nós proclamamos que
cremos na fé da Igreja, e não numa fé individual ou
fantasiosa. O homem pós-moderno, que repudia a Igreja, está negando aquela que
é depositária e transmissora da fé. A fé é a ponte que nos conduz a Deus e nos
possibilita responder ao chamado que Ele nos faz de sermos felizes ao Seu lado.
“Por
fim, irmãos, orai por nós, para que a Palavra do Senhor se
propague e seja estimada, tal como acontece entre vós, e para que sejamos
livres dos homens perversos e maus; porque nem todos possuem a fé” (II
Tessalonicenses 3,1-2).
Fonte: Canção Nova